4

Refrões famosos das óperas de Verdi

Em contraste com a tradição inicial do bel canto, que enfatizava as árias solo, Verdi deu à música coral um lugar importante em seu trabalho operístico. Ele criou um drama musical em que os destinos dos heróis não se desenvolveram no vácuo do palco, mas se entrelaçaram na vida das pessoas e foram um reflexo do momento histórico.

Muitos refrões das óperas de Verdi mostram a unidade do povo sob o jugo dos invasores, o que foi muito importante para os contemporâneos do compositor que lutaram pela independência italiana. Muitos conjuntos corais escritos pelo grande Verdi tornaram-se mais tarde canções folclóricas.

Ópera “Nabucco”: refrão “Va', pensiero”

No terceiro ato da ópera histórico-heróica, que trouxe a Verdi seu primeiro sucesso, os judeus cativos aguardam tristemente a execução no cativeiro babilônico. Eles não têm onde esperar pela salvação, porque a princesa babilônica Abigail, que tomou o trono de seu louco pai Nabucco, deu ordem para destruir todos os judeus e sua meia-irmã Fenena, que se converteu ao judaísmo. Os cativos lembram-se da sua pátria perdida, a bela Jerusalém, e pedem a Deus que lhes dê forças. A força crescente da melodia transforma a oração quase num apelo à batalha e não deixa dúvidas de que o povo, unido pelo espírito de amor à liberdade, suportará estoicamente todas as provações.

Segundo o enredo da ópera, Jeová realiza um milagre e restaura a mente do arrependido Nabucco, mas para os contemporâneos de Verdi, que não esperavam misericórdia dos poderes superiores, este coro tornou-se um hino na luta de libertação dos italianos contra os austríacos. Os patriotas ficaram tão imbuídos da paixão pela música de Verdi que o apelidaram de “Maestro da Revolução Italiana”.

Verdi: "Nabucco": "Va' pensiero" - Com Ovações - Riccardo Muti

************************************************** **********************

Ópera “Força do Destino”: refrão “Rataplan, rataplan, della gloria”

A terceira cena do terceiro ato da ópera é dedicada ao cotidiano do acampamento militar espanhol em Velletri. Verdi, deixando brevemente as paixões românticas da nobreza, pinta com maestria quadros da vida das pessoas: aqui estão soldados rudes parados, e o astuto cigano Preziosilla, prevendo o destino, e comerciantes flertando com jovens soldados, e mendigos pedindo esmolas, e o caricaturado monge Fra Melitone, repreendendo um soldado pela devassidão e pedindo arrependimento antes da batalha.

Ao final do quadro, todos os personagens, acompanhados por apenas um tambor, se unem em uma cena coral, da qual Preziosilla é solista. Esta é talvez a música coral mais alegre das óperas de Verdi, mas se você pensar bem, para muitos soldados que vão para a batalha, esta música será a última.

************************************************** **********************

Ópera “Macbeth”: refrão “Che faceste? Diga-me!

Porém, o grande compositor não se limitou a cenas folclóricas realistas. Entre as descobertas musicais originais de Verdi estão os refrões das bruxas do primeiro ato do drama de Shakespeare, que começam com um expressivo grito feminino. Bruxas reunidas perto do campo de uma batalha recente revelam o seu futuro aos comandantes escoceses Macbeth e Banquo.

As cores brilhantes da orquestra retratam claramente a zombaria com que as sacerdotisas das trevas preveem que Macbeth se tornará o rei da Escócia e Banquo se tornará o fundador da dinastia governante. Para ambos os guerreiros, este desenvolvimento dos acontecimentos não é um bom presságio, e logo as previsões das bruxas começam a se tornar realidade…

************************************************** **********************

Ópera “La Traviata”: refrões “Noi siamo zingarelle” e “Di Madrid noi siam mattadori”

A vida boêmia de Paris é repleta de diversão temerária, repetidamente exaltada nas cenas corais. No entanto, as palavras do libreto deixam claro que por trás da falsidade da mascarada está a dor da perda e a fugacidade da felicidade.

No baile da cortesã Flora Borvois, que abre a segunda cena do segundo ato, reuniram-se “máscaras” despreocupadas: convidados fantasiados de ciganos e matadores, provocando-se, prevendo o destino em tom de brincadeira e cantando uma canção sobre o valente toureiro Piquillo, que matou cinco touros na arena por amor a uma jovem espanhola. Os libertinos parisienses zombam da verdadeira coragem e pronunciam a frase: “Aqui não há lugar para coragem – você precisa estar alegre aqui”. O amor, a devoção, a responsabilidade pelas ações perderam valor em seu mundo, só o redemoinho do entretenimento lhes dá novas forças…

Falando de La Traviata, não se pode deixar de mencionar a conhecida canção de mesa “Libiamo ne' lieti calici”, que a soprano e o tenor interpretam acompanhados pelo coro. A cortesã Violetta Valerie, doente de tuberculose, fica emocionada com a confissão apaixonada do provinciano Alfred Germont. O dueto, acompanhado de convidados, canta diversão e juventude de alma, mas frases sobre a fugacidade do amor soam como um presságio fatal.

************************************************** **********************

Ópera “Aida”: refrão “Gloria all'Egitto, ad Iside”

A revisão dos refrões das óperas de Verdi termina com um dos fragmentos mais famosos já escritos em ópera. A solene homenagem aos guerreiros egípcios que retornaram com vitória sobre os etíopes acontece na segunda cena do segundo ato. O jubiloso coro de abertura, glorificando os deuses egípcios e os bravos vencedores, é seguido por um intermezzo de balé e uma marcha triunfal, talvez familiar a todos.

Segue-se um dos momentos mais dramáticos da ópera, quando a empregada da filha do faraó, Aida, reconhece o seu pai, o rei etíope Amonasro, entre os cativos, escondidos no acampamento inimigo. A pobre Aida terá outro choque: o faraó, querendo recompensar o valor do líder militar egípcio Radamés, amante secreto de Aida, oferece-lhe a mão de sua filha Amneris.

O entrelaçamento de paixões e aspirações dos personagens principais culmina no conjunto coral final, em que o povo e os sacerdotes do Egito louvam os deuses, os escravos e os cativos agradecem ao faraó pela vida que lhes foi dada, Amonasro planeja vingança e os amantes lamentar o desfavor divino.

Verdi, como psicólogo sutil, cria neste refrão um contraste grandioso entre os estados psicológicos dos heróis e da multidão. Os coros nas óperas de Verdi muitas vezes completam atos nos quais o conflito cênico atinge seu ponto mais alto.

************************************************** **********************

Deixe um comentário